A encarnação é um dos mistérios centrais da nossa fé.
Em primeiro lugar o acontecimento da encarnação – Deus fez-se homem. A humanidade teve o privilégio de assim ter, na igualdade humana, a presença da própria divindade. O nascimento de Jesus Cristo quer dizer que para nós o poder de Deus, o seu amor e a sua vida, o seu próprio ser, tornou-se carne e sangue. Agora, como um de nós partilha a nossa vida e o nosso amor, as nossas alegrias e as nossas misérias, mesmo as agonias da morte. É em Jesus Cristo que o humano e o divino se encontram. Entramos assim no campo do grande mistério da divindade e da humanidade do próprio Jesus Cristo.
Tenho aqui presente alguns números essenciais o Catecismo da Igreja Católica:
“O acontecimento único e absolutamente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que seja resultado da mistura confusa entre o divino e o humano. Ele fez-Se verdadeiro homem, permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Esta verdade de fé, teve a Igreja de a defender e clarificar no decurso dos primeiros séculos, perante heresias que a falsificavam”[1].
O acontecimento da Encarnação é essencial para podermos abordar o acontecimento da salvação consumado na paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que era de condição divina, não se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio, assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de Cruz.” (Filip 2, 5-8)
Estas mesmas palavras de S. Paulo aos Filipenses mostra-nos a relação perfeita entre o acontecimento da Encarnação e da Paixão. A sua interligação é perfeita e não é possível dissociá-las.
A realização da vontade do Pai passava precisamente, não apenas pelo facto de ser Filho de Deus, para pelos mistério da Paixão dar aos homens a Salvação prometida.
Não podemos pensar a morte de Jesus desvinculada do seu projecto de trazer a vida e vida em abundância para toda a humanidade. Por isso não se pode desligar ou separar a cruz da Pessoa de Deus, e igualmente olhar a cruz como consequência da vida e da história de Jesus. Assim sendo temos que compreender o caminho de Jesus como um caminho teológico, e ao mesmo tempo entendemos verdadeiramente o que significa seguir Jesus.
A Cruz, no dizer de S. Paulo (1 Cor 1,17-23) continua a ser loucura e escândalo. Mas é por meio da Cruz, e sem Encarnação não pode haver Cruz, que Deus, em Jesus Cristo, salva toda a humanidade. Cristo morreu, mas Ressuscitou de entre os mortos, e essa é a nossa esperança – esperança que dá paz e alegria, esperança que dá coragem para carregar diariamente a cruz, no dia a dia da nossa vida.
A cruz é sinal de vitória e de esperança. Na Sexta-Feira Santa lembramo-nos do que custou a Jesus Cristo conseguir essa vitória para todos nós.
[1] CIC n.º 464
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