terça-feira, 4 de junho de 2013

A razão e ou a fé


Gostava de introduzir este tema com a reflexão do Papa João Paulo II:

“A razão, privada do contributo da Revelação, percorreu sendas marginais com o risco de perder de vista a sua meta final. A fé, privada da razão, pôs em maior evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco de deixar de ser uma proposta universal. É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e radicalidade do ser. A esta luz, creio justificado o meu apelo, veemente e incisivo, para que a fé e a filosofia recuperem a unidade profunda que as torna capazes de serem coerentes com a sua natureza, no respeito da mútua autonomia. Ao desassombro da fé deve corresponder a audácia da razão.” (Carta Encíclica de João Paulo II sobre as relações entre a fé e a razão – Fides et Ratio)

No meio desta reflexão introduzia uma síntese sobre Santo Agostinho. Santo Agostinho não se preocupa em traçar fronteiras entre a fé e a razão. Para ele, o processo do conhecimento é o seguinte: a razão ajuda o homem a alcançar a fé; de seguida, a fé orienta e ilumina a razão; e esta, por sua vez, contribui para esclarecer os conteúdos da fé. Deste modo, não traça fronteiras entre os conteúdos da revelação cristã e as verdades acessíveis ao pensamento racional.

Para Santo Agostinho, “o homem é uma alma racional que se serve de um corpo mortal e terrestre”; expressa assim o seu conceito antropológico básico. Distingue, na alma, dois aspectos: a razão inferior e a razão superior. A razão inferior tem por objecto o conhecimento da realidade sensível e mutável: é a ciência, conhecimento que permite cobrir as nossas necessidades. A razão superior tem por objecto a sabedoria, isto é, o conhecimento das ideias, do inteligível, para se elevar até Deus. Nesta razão superior dá-se a iluminação de Deus.

O que até aqui foi apresentado prende-se com esta relação íntima entre a razão e a fé; não as podemos considerar inseparáveis quanto mais distantes. A razão faz parte da essência humana, como criatura do próprio Deus, e para este mesmo Deus caminha iluminada pela fé. A razão e a fé devem caminhar juntas para oferecer à humanidade um sentido perfeito à sua existência no caminho da própria perfeição.

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