Gostava de
introduzir este tema com a reflexão do Papa João Paulo II:
“A razão,
privada do contributo da Revelação, percorreu sendas marginais com o risco de
perder de vista a sua meta final. A fé, privada da razão, pôs em maior
evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco de deixar de ser uma
proposta universal. É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a
fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser
reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha
pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e
radicalidade do ser. A esta luz, creio justificado o meu apelo, veemente e
incisivo, para que a fé e a filosofia recuperem a unidade profunda que as torna
capazes de serem coerentes com a sua natureza, no respeito da mútua autonomia.
Ao desassombro da fé deve corresponder a audácia da razão.” (Carta Encíclica de
João Paulo II sobre as relações entre a fé e a razão – Fides et Ratio)
No meio desta
reflexão introduzia uma síntese sobre Santo Agostinho. Santo Agostinho não se
preocupa em traçar fronteiras entre a fé e a razão. Para ele, o processo do
conhecimento é o seguinte: a razão ajuda o homem a alcançar a fé; de seguida, a
fé orienta e ilumina a razão; e esta, por sua vez, contribui para esclarecer os
conteúdos da fé. Deste modo, não traça fronteiras entre os conteúdos da
revelação cristã e as verdades acessíveis ao pensamento racional.
Para Santo
Agostinho, “o homem é uma alma racional que se serve de um corpo mortal e
terrestre”; expressa assim o seu conceito antropológico básico. Distingue, na
alma, dois aspectos: a razão inferior e a razão superior. A razão inferior tem
por objecto o conhecimento da realidade sensível e mutável: é a ciência,
conhecimento que permite cobrir as nossas necessidades. A razão superior tem por
objecto a sabedoria, isto é, o conhecimento das ideias, do inteligível, para se
elevar até Deus. Nesta razão superior dá-se a iluminação de Deus.
O que até aqui
foi apresentado prende-se com esta relação íntima entre a razão e a fé; não as
podemos considerar inseparáveis quanto mais distantes. A razão faz parte da
essência humana, como criatura do próprio Deus, e para este mesmo Deus caminha
iluminada pela fé. A razão e a fé devem caminhar juntas para oferecer à
humanidade um sentido perfeito à sua existência no caminho da própria
perfeição.
Sem comentários:
Enviar um comentário