sábado, 29 de março de 2014

Ir Em frente


Vir à fonte. Ir em frente. Mais uma vez é assim. Desta feita, o poço não é fundo, mas é larga a piscina de Siloé, que quer dizer «o enviado». Ali, um pobre cego recebe, pela água, a clara luz dos seus olhos. O velho homem, perdido na escuridão informe e vazia, de um mundo sem graça e sem cor, regressa, da água, com os olhos abertos e a ver, mesmo sem saber como! Iluminados pelo Baptismo, comecemos por nos deixar olhar por Cristo, reconhecendo o pecado que há em nós.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Tenho Fome


Estava a sair da Igreja quando uma mulher mal vestida veio ao meu encontro " Padre, dê-me alguma coisinha!". Como de costume, penso para comigo mesmo, mais uma que conta umas histórias para receber dinheiro. consigo vencer o nervosismo e a pressa, e, e em vez de por a mão no porta moedas, faço-lhe algumas perguntas: "O que queres?". "Padre, as crianças têm fome". "Eu compro-te comida. O que queres? É uma pergunta clássica que distingue quem faz bluff de quem tem mesmo necessidade. "Preciso de esparguete Padre". Não está a fingir. Compro-lhe o esparguete, converso um pouco com o seu filho. Cumprimentamo-nos cordialmente. Fico contente: quando se julga apressadamente, pode nascer sempre algo. E Jesus, que bate à Porta, Não fica do lado de fora.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Quaresma


Durante esta Quaresma, queremos colocar-nos entre os pobres e pecadores, não para sermos coniventes e cúmplices no pecado, mas para sentirmos verdadeira necessidade da tua graça, e caminharmos para Ti certos de que seremos libertados das nossas culpas. Confiamos em Ti, Senhor, jamais seremos confundidos. Amen.

quarta-feira, 19 de março de 2014

PAI


Boa noite, Pai. Termina o dia e a ti entrego o meu cansaço. Obrigado por tudo e perdoa-me. Obrigado pela esperança que hoje animou meus passos, pela alegria que vi no rosto das crianças; Obrigado pelo exemplo que recebi dos irmãos; Obrigado, porque nos momentos de desânimo recordo que tu és meu Pai. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa suave. Perdoa-me por tudo Pai e abençoa os meus prepósitos para o dias que se irão seguir. Que ao acordar, me invada um novo entusiasmo, porque sei que tu estas sempre comigo. Amo-te Pai.

segunda-feira, 17 de março de 2014

A Raiz


Muitas vezes os nossos pecados sintetizam-se em três: o orgulho a impureza e a preguiça. Se olharmos com atenção, a nossa história de pecado encontra aqui as suas raizes, as suas causas principais. e se conseguissemos arrancar completamente uma, as outras sobreviveriam sempre um pouco dentro de nós. Mas lutar contra uma significa também lutar contra as outras. Se alguém é humilde, tem possibilidade de vencer as tentaçõrs impuras e não ser apanhado pela moleza. Se alguém é puro, conquista uma verdadeira humildade e uma autêntica e sincera disponibilidade para com os outros. Mas se olharmos bem, apercebemo-nos de que há uma atitude que nos torna vencedores: a caridade. Se alguem ama é humilde. Se alguem ama é puro. Como são verdadeiras as palavras de Santo Agostinho. " Ama a Deus e faz o que quizeres.

sábado, 15 de março de 2014

POUCA COISA.


Há momentos e situações em que nos apercebemos, de modo quase dramático, da nossa incapacidade e limites relativamente à vocação que Deus nos confiou. A tentação, nestes momentos, é entrar em crise, ficar com o moral em baixo e deprimidos. Então podemos fazer duas experiencias que dizem respeito a uma só realidade. A primeira consiste em reconhecer o rosto e a presença de Jesus abandonado no fracasso. Ele foi " o fracassado por excelência, Ele é o nosso fracasso". Reconhece-lo, dizer-lhe: és Tu! E abraça-lo. A segunda consiste em colocarmos perante Deus e repetir, no silêncio e no íntimo do coração, a seguinte oração: " Eu não sou nada, Tu és tudo". E parar de a repetir só quando aquele "Tu és tudo" se tornar maior e mais forte do que o "Eu não sou nada". Porque é que estas duas coisas são uma só? Porque a Páscoa de Jesus é uma única experiencia: da morte... para a vida.

sexta-feira, 14 de março de 2014

AMAR A DEUS COM TUDO

O nosso Deus é um Deus ciumento que quer ser amado acima de todas as coisas. Ele não quer ser dividido com nada nem com ninguém. O shemá hebraico já o diz abertamente: " O Senhor é o nosso Deus. O Senhor é um. Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a tua mente com todas as tuas forças". O que impressiona é aquele "todas". Deus não quer ser amado com um bocado do nosso coração, com uma parte da nossa mente, com algumas forças. Ele quer ser amado ao máximo: com "Tudo". e se alguém não o ama assim, com esta totalidade, não o ama verdadeiramente. Só Quem ama com "tudo" é que receberá d´Ele o cêntuplo nesta terra e a vida eterna. Eis então a contraprova do nosso amor: se não experimentamos o "cêntuplo" quer dizer que não deixamos tudo para O amar totalmente. Os Santos, eles sim, amavam assim. e tinham uma grande alegria. E experimentavam que o Evangelho é verdadeiro e bonito. Porque amavam. Com tudo.

terça-feira, 11 de março de 2014

Vigiar


A desatenção, a incapacidade para compreender o que se passa no íntimo de nós mesmos, a pressa e a superficialidade com que enfrentamos a vida, tudo isto é contra a "vigilância" a que nos apela o Evangelho. O significa, o facto, de vigiar? Quer dizer prestar atenção ao que acontece na história. Na história que nos é alheia, a dos "grandes" e a das pessoas que todos os dias cruzamos no nosso caminho. Na historia que conhecemos, a que se passa dentro dos nossos corações, as emoções, os desejos, os movimentos do nosso espirito. Diz o Evangelho que é do nosso coração do homem que saem as coisas mais horríveis, mas também que é do nosso coração que o um escriva, tornado discípulo do Reino, pode extrair coisas muito bonitas. Mas tudo isto não acontece, isto é, não pode existir purificação e doação sincera e profunda, se faltar a verdadeira e autêntica vigilância. "Vigiem porque não sabem... para não caírem em tentação..." Demos espaço no nosso coração a esta "atenção consciente" e viveremos melhor a nossa humanidade.

domingo, 9 de março de 2014

S. João de Deus. O Santo que inspirou a minha vida.

Ontem sábado dia 8 de Março.
"É pelo fruto que se conhece a árvore." Mt 12,33b O Santo de hoje é muito conhecido, sobretudo no mundo português. É São João de Deus, português, nascido em Montemor-o-Novo (1495) e falecido em Granada (Espanha, a 8 de Março de 1550). De seu nome João Cidade conta-se que, tendo transportado aos ombros um menino andrajoso que com dificuldade se deslocava, este lhe mostrou uma granada ou romã, com uma representação da Santa Cruz e, referindo-se à cidade espanhola com esse nome, lhe disse: "Granada será a tua Cruz". A seguir desapareceu. A primeira parte da vida deste santo foi marcada por aventuras, algumas até curiosas. Abandonou a casa paterna aos oito anos. Fez-se soldado. Trabalhou em hospitais, como simples servente. Foi criado e comerciante. Manteve um pequeno negócio de livros. Ouvindo um sermão de São João d' Ávila sentiu-se tocado. Desfez-se de todos os seus bens. Reuniu esmolas e foi cuidar de doentes, especialmente dos loucos e dos incuráveis. Entre eles, como ele próprio conta, havia paralíticos, leprosos e até mudos. "Nas horas difíceis - dizia João de Deus - é Jesus Cristo quem provê tudo e dá de comer aos meus queridos doentes". Mantinha ele mais de oitenta hospitais, que fundara só em Espanha. Por isso, tornou-se também o Fundador dos Irmãos dos Enfermos. E foi declarado patrono dos hospitais por Leão XIII.
Pai, estou certo de que, mesmo sendo pecador, sou amado por ti, e posso contar com a tua solidariedade, que me descortina a misericórdia e a justiça como jeito novo de ser.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Oração perseverante, humilde e audaz.


Cristo é a salvação e a esperança para cada homem. Nós estamos chamados a anunciá-Lo com a nossa existência diária; devemos ser “sal” e “luz” para os homens e as mulheres de hoje; com a nossa vida exemplar devemos reflectir a luz de Cristo e ser “fermento” de esperança para a humanidade; devemos ser luz e conforto para cada pessoa que encontremos no nosso caminho. Mas é impossível amar como Cristo amou, se Ele mesmo não ama em nós; é impossível seguir Cristo Jesus, se Ele mesmo não vier viver dentro de nós; comunicando-nos o Espírito Santo, Ele entra na nossa existência e vive connosco, a tal ponto que cada cristão possa dizer com S. Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20). E isto não é possível sem oração; a salvação é obra da graça de Deus, e esta não se consegue sem oração: “Se Deus não edifica a casa, em vão trabalham os que a edificam; se Deus não guarda a cidade, em vão a guardam as sentinelas” (Salmo 126, 1).

segunda-feira, 3 de março de 2014

Devemos fazer sempre o que pede o coração.


«Faz o que te pede o coração»! É a resposta de Natã ao Rei David. O rei, pastor e poeta, desassossegado com o desconforto de Deus, sonha um casa para o Senhor. Projeta construir um espaço, encontrar um lugar digno, onde o seu Deus possa habitar e permanecer. A tenda, morada itinerante, parecia-lhe desajustada à condição forte do Todo-Poderoso. Mas Deus parece desconcertar David, nos seus bons intentos. Parece mesmo preferir a condição peregrina da Tenda à estrutura pesada do Templo. Talvez a indicar a David, que não há lugar que a prenda, não há espaço que o limite, não há também para Ele morada permanente... Ou talvez, nesta recusa de Deus em se deixar enclausurar dentro de quatro paredes, o Senhor sugira a David que outra é a morada da sua preferência, outro o seu habitat natural, outro o seu espaço vital. «Faz o que te pede o coração» poderá indiciar outra resposta: faz o que queres, mas fá-lo em teu coração. Sim. É o coração do Homem a morada de Deus, o seu espaço mais recôndito.

Será THEOS o mesmo que ABBA


Theos – significando Deus, o mostrar da vida íntima de Deus. O Novo Testamento grego usa esta expressão singular da palavra Deus, que algumas vezes aparece no plural (ho Theoi). O plural é usado para o hebraico “Elohim” ou o aramaico "Elahin", que é usado várias vezes no Antigo e Novo Testamentos para indicar os diferentes níveis de divindade experimental nos outros reinos, subordinados ao verdadeiro Deus (YHWH). No livro de Daniel, a palavra plural para Deus é usada treze vezes (Daniel 2:47). Jesus fala aos seus ouvintes em João 10:34,35, "Eu disse: Vós sois deuses", sugerindo que os santos são deuses embrionários. Embora geralmente se utilize a forma singular, ela é normalmente expandida com expressões tais como [Ho] Theos [Ho] Aiônios — o Deus Eterno, e Ho Theos Ho Hypsistos — o Deus Altíssimo. Abbá – “Abbá” significa “Pai” em hebraico. “Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres.” (Mc 14, 36) Jesus revelou que Deus é “Pai” num sentido inédito: não o é somente enquanto Criador: é Pai eternamente em relação ao seu Filho único, o qual, eternamente, só é Filho em relação ao Pai. “Vós não recebestes um Espírito de escravos para recair no medo, mas recebestes um Espírito de filhos adoptivos, por meio do qual clamamos: Abbá! Pai!” (Rom 8,15) Theos revela-nos a divindade – Abbá revela-nos a proximidade, o relacionamento dos homens com Deus, somos filhos de Deus. Só S. Marcos nos conserva na própria língua original a exclamação filial de Jesus ao Pai: “Abbá ” que é o nome com que os filhos se dirigem intimamente a seus pais, uma confiança filial semelhante é a que há-de ter todo o cristão na sua vida, e de modo especial na oração.