quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A ESPERANÇA CRISTÃ – o que é e em que se fundamenta

A esperança é o motor da vida de qualquer ser humano, uma vez que este está constitutivamente aberto ao futuro! A esperança cristã é o motor de vida de qualquer cristão, de qualquer ser humano que foi baptizado no Mistério Pascal de Jesus Cristo. Aliás, diz Agostinho ”só a esperança nos torna propriamente cristãos” (Civ. Dei, 6,9,5), sim a esperança é um modo de vida cristão.
Em que consiste essa esperança? Em Cristo Ressuscitado, realização plena do homem e da história!
Qual o fundamento dessa esperança? Cristo Ressuscitado, Alfa e Ómega da criação, da história, do homem!
De facto, a tese fundamental do todo o manual é a promessa de Deus como proposta de cumprimento às ânsias eternas do homem e onde este encontra a sua realização plena.
A Revelação mostra-nos esta esperança como força histórica, mas que vai mais além da história. Paulatinamente apresenta-nos uma escatologia progressiva na qual é possível reconstruir as etapas de um caminho onde se vislumbra, cada vez com maior nitidez, a convicção de que o verdadeiro objecto da esperança é o mesmo Deus, e na “plenitude dos tempos” (GI 4,4) faz coincidir a encarnar esta esperança com Jesus Cristo, morto e ressuscitado!
Na verdade é a Sua ressurreição que garante, não só o cumprimento das profundas aspirações do nosso coração, mas, mais do que isso, que as transcende, Superando os limites conaturais à existência terrena.
Este cumprimento não afecta apenas a dimensão individual da pessoa (entendida como unidade entre alma/corpo/espírito, de acordo com a antropologia bíblica), mas também a social e a cósmica, e assinala-nos o mundo futuro como Páscoa da Criação.
Sim a esperança cristã faz coincidir a meta dos indivíduos com a da humanidade inteira, é simultaneamente pessoal e universal e envolve todo o cosmos . O futuro que promete a esperança cristã abarca, assim, a criação inteira. (Cf.Rom 8,19-23)
A fé em Cristo ressuscitado, primícia da nova criação, outorga-nos uma esperança que longe de negar a criação, procura renová-la a partir do seu interior. Dita esperança fecunda a criação e a história levando à plenitude o que nelas é ainda promessa. O futuro representado por Cristo ómega, que polariza o acontecer cósmico e humano, não conduz, portanto, a evadir-se da história e a descuidar o compromisso temporal, mas indica o telos, o fim a que dito compromisso deve tender para a realização do reino de Deus, confere sentido ao compromisso do crente pra a transformação do mundo na direcção do reino, na construção de um reino de justiça, de paz de liberdade humana.
Cristo é a esperança da Igreja para o mundo, uma esperança que polariza a vida, que é um caminho a percorrer com o espírito das bem-aventuranças, um caminho, sem esquecer a meta. Uma esperança que dá sentido à história, uma esperança que urge ao compromisso terreno. Sim, é Jesus Cristo quem, com a Sua morte e ressurreição antecipa a meta da história e sustém o caminhar do homem até ao seu cumprimento!
Ao contrário das esperanças seculares, a esperança cristã, que se apoia, no mistério da morte da ressurreição de Cristo, apresenta-se justamente como vitória sobre a morte – creio na Ressurreição da carne! A fé em Cristo crucificado e ressuscitado é a única que nos permite conservar a esperança inclusive diante dos fracassos históricos, inclusive diante da morte e que nos leva a manter o compromisso por um mundo melhor, apesar dos aparentes fracassos.
Esta questão é importante, pois cada crente é chamado a «a dar razões da sua esperança» e o que eu posso esperar não é consequência do que posso saber e do que devo fazer, mas provém daquele centro que é o eixo vitalizador da história, que a transcende, mas que realiza nela, já, os actos de amor transformante que me possibilitam esperar plenitude do ainda não realizada na história .
Não se trata de uma utopia. A minha esperança tem um nome concreto: Jesus Cristo. É a Palavra activa de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo, na Sua morte – Ressurreição – Pentecostes. Espero Alguém que já veio ao encontro dos homens e os convidou ao encontro da comunhão; creio na fidelidade da Sua Palavra e na qualidade salvífica do Seu amor que «deu a vida por nós». “Espero a vida de comunhão com Ele e n’Ele, vida santificante e transformante, vida da graça, da qual a fé, a caridade e a esperança é o seu lado consciente”. (H.U.Balthasar)
Tenho consciência de que Ele é a consumação do homem e do mundo, é o fim da história, a Parusia, o Reino de Deus, o Paraíso, a Plenitude.
Plenitude esta que é a fonte dinamizadora da história, da acção de uma acção que nem sempre é harmónica, entre o querer salvífico da infinita liberdade divina e o querer da infinita possibilidade da liberdade humana, uma vez que nem sempre estamos dispostos a fazer o bem e a viver o amor onde se pode realizar.
Contudo, acredito também que o amor divino e só ele, nos baptizou na morte e Ressurreição do Filho de Deus nos dará discernimento e força para, coerentemente com a fé cristã, vivermos, no quotidiano, a esperança no triunfo de Cristo sobre o mal e a consumação do homem e do mundo, no Deus que será tudo em todos (Cor 15,28).

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