terça-feira, 4 de outubro de 2011

Jesus Mediador

Depois do discurso da Ceia (capítulos 13-16) começa a chamada Oração sacerdotal de Cristo, que ocupa todo o capítulo 17. Denomina-se oração sacerdotal porque Jesus Se dirige ao Pai num diálogo emocionado, em que, como Sacerdote, Lhe oferece o sacrifício iminente da Sua Paixão e Morte. Desta forma revela-nos elementos essenciais da Sua missão redentora e serve-nos de modelo e ensinamento.
A Oração sacerdotal consta de três partes: na primeira (versículos 1-5), Jesus pede a glorificação da Sua Santíssima Humanidade e a aceitação por parte do Pai do Seu sacrifício na Cruz. Na segunda (versículos 6-19), roda pelos seus discípulos, que vai enviar ao mundo para proclamarem a obra redentora que Ele estás prestes a consumar. Por último (versículos 20-26), roga pela unidade entre todos os que hão-de crer n’Ele ao longo dos séculos, até conseguir a plena união com Ele próprio na glória.
A qualidade mais profunda de todo o texto radica na intimidade que Jesus demonstra para com Deus, a quem continuamente chama Pai. Por isso, transcende o tempo e o pesco, pois Cristo dirige-se aos discípulos de todos os tempos. O facto de pronunciar a oração ao Pai em voz alta e diante dos seus amigos é um convite para que participem em tão singular união, entre eles e os crentes das gerações futuras: “Eu não Te peço só por estes, mas também por aqueles que vão acreditar em Mim por causa da sua palavra, para que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti.” (Jo 17, 20-21a).
Jesus, nesta oração, pede ao Pai que santifique os discípulos na verdade, do mesmo modo que Ele se consagra por eles. A efusão do Espírito, cuja incumbência se acentua à medida que nos aproximamos do dia de Pentecostes, será a consagração dos discípulos na verdade.
Esta consagração dá ao crente acesso à santidade de Deus e à alegria perfeita, plena e transbordante de Jesus glorificado. Duas condições para atingir esta meta: primeira, manterem-se unidos os discípulos entre si pelo amor, como Cristo com o Pai e o Espírito, pois o amor faz parte essencial da verdade de Deus; segunda, suportar e vencer com esse amor o ódio do mundo, no meio do qual terão que viver os cristãos.
Nesta oração Sacerdotal Jesus roga ao Pai por quantos acreditam n’Ele pelo testemunho da palavra dos apóstolos; isto é, pede pela futura comunidade cristã. A unidade dos seus membros será um sinal que significa diante do mundo a própria identidade e filiação divina de Cristo. Jesus recorda a sua comunhão com o Pai (e o Espírito) como modelo e fonte da unidade eclesial.
Ao mesmo tempo, esta referência trinitária consagra também a diversidade dentro da unidade. Pois se o Pai, o Filho e o Espírito constituem um só Deus, uma só natureza divina, são, no entanto, pessoas diferentes entre si. E à unidade opõe-se a divisão, mas não a pluralidade. União não significa uniformidade, mas comunhão e comunidade.
Ora bem, realizar na Igreja a unidade dentro da diversidade é obra do Espírito Santo, como afirma abertamente São Paulo nas suas cartas, ao ponto da fraternidade entre os membros ser um sinal da comunidade cristã que possui o Espírito de Cristo e actua sob o seu impulso.
A união dos cristãos é um tema de grande actualidade, hoje como ontem. Precisamos do dinamismo da conversão contínua e progressiva à unidade, tanto a nível interno como a nível ecuménico. União primeiro entre os mesmos da mesma igreja, e união, depois, com os cristãos das diversas confissões ou igrejas.
Fiquemos com as palavras do Concílio Vaticano II: “Quando o Senhor roga ao Pai ‘para que sejam um como nós somos um’, abrindo perspectivas fechadas à razão humana, sugere uma certa semelhança entre a união das pessoas divinas e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade. Esta semelhança demonstra que o homem, única criatura terrena a quem Deus amou por si mesma, não pode encontrar a sua própria identidade senão na entrega de si mesmo pelos outros “ (GS 24,3)

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